Estudo vai mostrar quanto será preciso investir para adotar 5G

Ivone Santana – Valor Econômico

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Associação Global de Operadoras Móveis (GSMA) estão elaborando um contrato para fazer um estudo sobre a necessidade de investimento para as futuras redes de quinta geração (5G) de serviços móveis na América Latina. A iniciativa faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, de modo a dar condições para a implantação de uma infraestrutura digital.

O estudo deverá ser realizado por país e contemplar uma agenda social em contraposição à necessidade de infraestrutura, disse Sebastian Cabello, responsável pela GSMA na América latina. Ainda não existe nenhuma rede 5G em fase comercial, só testes. As empresas fazem mais  experiências nos Estados Unidos, no Japão, na Coreia e nos Emirados Árabes. A meta é avaliar a tecnologia e o desempenho da rede. Com os resultados, os fornecedores esperam despertar o interesse das operadoras.

A pré-definição das faixas de frequência para 5G será liberada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) no fim deste ano. As escolhas definitivas serão divulgadas durante a Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC-19), que será realizada em Genebra, de 28 de outubro a 22 de novembro de 2019, também sob o âmbito da UIT. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é associada à UIT.

Apesar do interesse em saber quais faixas serão escolhidas, as operadoras no Brasil não se mostram nem um pouco ansiosas para o lançamento do serviço. Ainda empenhadas em implantar a rede 4G, na qual cresce o tráfego de dados, as empresas consideram prematuro investir em uma nova rede quando ainda estão expandindo a geração atual.

A cobertura de 4G no Brasil atinge 3,9 mil municípios. A 3G está presente em 1,6 mil municípios e a 2G, em 3,4 mil. No mundo, as faixas em discussão para 5G são 3,5 gigahertz e 600 megahertz, além das faixas de ondas milimétricas de 26 GHz e 28 GHz, disse Cabello. Quanto maior a frequência, menor o comprimento da onda, e vice-versa. Segundo ele, a tendência é que os Estados Unidos escolham o espectro de 600 MHz.

No Brasil, a faixa cotada para implantar 5G é a de 3 GHz, atualmente em uso por emissoras de televisão. Com o tempo, outras faixas devem ser desocupadas e redirecionadas para a tecnologia, processo conhecido no setor como “refarming”.

Nesse sentido, já se discute inclusive o desligamento da rede 3G, em que trafegam voz e dados. Ocorre que a rede 4G, hoje majoritariamente para tráfego de dados, começa a incluir o serviço de voz, tecnologia conhecida como VoLTE (sigla para voz sobre LTE). À medida que a voz for transferida para 4G, a rede 3G ficará mais desocupada, podendo ser desativada em algum momento.

Consultadas pelo Valor, só a TIM, entre as principais operadoras de serviços móveis no Brasil, confirmou que já oferece VoLTE comercialmente. A companhia afirmou que já ativou a VoLTE em 1.445 municípios. A Claro afirmou que rede está em operação em São Paulo e no Rio de Janeiro, em teste, e que o lançamento será em breve. A Oi só tem planos para 2019 e a Vivo, que também testa o sistema no país, não detalhou seu projeto.

Se a 4G já é orientada para tráfego de dados, a 5G foi especialmente desenvolvida para essa finalidade, pelas velocidades que pode alcançar. Cabello disse que o tráfego de dados cresce 60% ao ano na América Latina, sendo que 80% do volume é de vídeo. A 5G estará preparada para esse crescimento, contando com uma sociedade onde objetos estarão conectados.

Para uma expansão desse porte, as teles precisarão de mais espectro. Atualmente, as operadoras já reclamam que precisam de mais espectro e antenas. Mas isso depende de leilões e revisões da regulamentação pela Anatel. A maioria delas está quase no limite do que é permitido para possuir espectro. Além disso, muitas prefeituras não autorizam a instalação de antenas. Trata-se de uma antiga discussão. Uma lei federal disciplinou a instalação desses equipamentos, mas ainda assim requer a regulamentação por município.

A GSMA Intelligence estima que haverá 1,2 bilhão de conexões 5G até 2025, cobrindo 40% da população global, ou cerca de 2,7 bilhões de pessoas.

A velocidade de 5G depende do tipo de comparação que se faz, diz o executivo da GSMA. Se for considerado que o pico de 4G é de 40 megabits por segundo (Mbps), espera-se que 5G (varia de um fornecedor para outro) seja de 10 a 15 vezes mais veloz, ou 400 Mbps a 600 Mbps. Esses números são apenas estimativas, já que dependem da padronização de 5G.

Segundo Cabello, a 5G precisará dez vezes mais antenas que as gerações anteriores. Serão antenas de todos os portes, inclusive as microcells. Quanto mais alta a frequência, menor o tamanho da antena. “As cidades mais importantes do mundo terão que ter uma cruzada para instalar antenas, ou não terão 5G”, diz ele. “Espero que o próximo governo [do Brasil] resolva isso, porque a lei atual não resolve.”