Nextel aperfeiçoa cobertura 4G enquanto aguarda oferta de compradores

Após controlar a debandada de clientes e renegociar suas dívidas, a Nextel Brasil pretende avançar na atualização de suas redes, com ampliação da cobertura 4G, conta o presidente da companhia, Roberto Rittes, em entrevista ao Broadcast.

A operadora ganhou fama pelos serviços de radiochamada na virada da década, mas lançou os serviços de internet 3G e 4G só depois das concorrentes, e acabou perdendo espaço no mercado. Agora, busca ser vista novamente como uma empresa competitiva na qualidade dos serviços.

O plano de investimentos da operadora para 2019 será divulgado oficialmente na metade de março, mas Rittes já antecipa que, entre as principais iniciativas para o ano, está a expansão da cobertura 4G por meio do redirecionamento (refarming) de frequências no interior de São Paulo e da atualização do contrato de compartilhamento nacional de redes com a Telefônica.

Nos próximos meses, a Nextel pretende iniciar o refarming das redes em Sorocaba e São José dos Campos, nos mesmos moldes da feita em Campinas e Santos no ano passado. Nessas cidades, a operadora oferece a tecnologia 3G por meio da frequência de 2.100 Mhz, mas, com o refarming, metade da frequência passa a ser ocupada pelos sinais de 4G.

“Isso nos garante aumento na capacidade de dados na rede e melhora na experiência dos clientes. O nosso 3G é rápido e competitivo, mas sabemos que o mundo hoje está indo para 4G”, explicou Rittes.

Outro passo no mesmo sentido é a atualização do seu contrato com a Telefônica, dona da marca Vivo. Hoje, o cliente da Nextel que sai de São Paulo e Rio de Janeiro, onde a operadora tem redes próprias, acessa a internet através da infraestrutura da Telefônica via tecnologia 3G. Com a atualização, o tráfego de dados será pelo 4G, o que deve ocorrer ainda neste semestre. “Em breve, os clientes da Nextel poderão usar o 4G da Vivo”, disse Rittes.

A Nextel passou por uma grande reestruturação a partir de 2017, após Rittes assumir o comando no lugar de Francisco Valim. De lá pra cá, os principais passos foram a renegociação de US$ 386 milhões em empréstimos bancários e o corte de 30% na folha de pagamento, deixando a estrutura financeira mais enxuta.

Pelo lado dos serviços, a operadora internalizou parte das equipes de atendimento e vendas, e simplificou os planos. Até então, as chamadas de voz e os envios de SMS, por exemplo, ainda eram cobrados por uso. Após a revisão, se tornaram ilimitados por um preço único dentro dos pacotes, da mesma forma que já era praticado pelas demais operadoras.

Os ajustes nos negócios garantiram uma diminuição no índice de perda de clientes (chamado pelo jargão de churn), que caiu de 4,0% ao mês no fim de 2017 para 2,7% até setembro de 2018, conforme dado mais recente disponível.

Quem leva?
Ao mesmo tempo em que a ampliação da cobertura 4G ajuda a fortalecer os serviços da Nextel diante da competição acirrada do mercado, ela também busca tornar a companhia mais atrativa para potenciais compradores.

Na metade do ano passado, a norte-americana NII Holdings, dona da Nextel, contratou o banco Rotschild para vender seu controle na empresa brasileira. Esta é a última operação da Nextel no portfólio da NII Holdings, que entrou em recuperação judicial em 2014 e se desfez da marca na Argentina, Peru, Chile e México nos últimos anos na tentativa de reduzir a dívida e acalmar credores.

A Nextel Brasil tem 3 milhões de clientes, o equivalente a 1,5% do mercado de telefonia móvel. Além disso, conta com as frequências de 2.100 Mhz e 1.800 Mhz para 3G e 4G em São Paulo e Rio de Janeiro, ativos que são considerados valiosos pelas operadoras. O caminho para a uma eventual compra da Nextel por outras companhias ficou melhor pavimentado após a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) ter aprovado, em novembro, uma mudança regulatória que diminuiu as restrições sobre a quantidade de frequência que pode ser detido por cada uma das operadoras. A restrição fazia com que uma grande operadora que viesse a comprar a Nextel ultrapassasse o limite legal e tivesse que devolver frequência para a Anatel. E frequência é uma coisa cara.

Nos bastidores, TIM e Claro são citadas como as principais candidatas a arrematar a Nextel, de olho na expansão da carteira de clientes e frequência, mas nenhuma das empresas se manifesta diretamente sobre o assunto. A Telefônica tem dito que o foco é a expansão orgânica em vez de aquisições, enquanto a Oi segue em recuperação judicial e tenta colocar as próprias operações nos trilhos.

* Por Circe Bonatelli | Broadcast – Agência Estado