TelComp On-line #32

Redes Neutras: Uma nova panaceia para as telecomunicações

“Na mitologia grega, panaceia era a deusa da cura. O termo panaceia é muito utilizado com o significado de remédio para todos os males”  www.pt.wikipedia.org

Ações em baixa na bolsa, endividamento alto, receitas operacionais declinantes, margens geradas por fortes cortes de custos, crescentes exigências de novos investimentos, etc. É neste cenário adverso que as grandes teles apresentaram ao mercado, sincronizadamente, suas propostas de separação estrutural de redes para a criação de operadoras neutras, que atenderiam a todo o mercado, como panaceia para curar mazelas.

No passado, os grandes grupos sempre se colocaram contra regulamentos de compartilhamento criados pela Anatel. Unbundling do local loop, aluguel de EILD e mesmo de dutos, nunca avançaram e foram objeto de longo contencioso. O discurso sempre foi “quem não tem redes próprias não pode competir”. Este foi o paradigma que prevaleceu até agora. As operadoras competitivas e provedores regionais, sem acesso a compartilhamentos com as grandes, avançaram na construção de redes próprias e a fibra óptica avançou muito e hoje responde por 62%  da oferta nacional e chega a todo o país, inclusive em regiões sempre consideradas inviáveis.

O conceito de rede neutra é interessante e desafiador. Ainda faltam evidencias de viabilidade do modelo de negócios, mesmo em projetos pioneiros em outros países.

As dificuldades incluem:

  • Baixas margens para serviços de conectividade tradicional que limitam a lucratividade das rede neutras.
  • Altos investimentos para qualificar as redes e implantar sistemas de gestão para múltiplos clientes, bem diferentes do necessário para redes dedicadas.
  • “DNA” próprio para atender a clientes de atacado com padrão de excelência.
  • Garantia de neutralidade que gere credibilidade de que não há privilégios para qualquer cliente, em especial para a operadora que originou a rede “neutra”.

 

As operadoras competitivas já foram criadas com o DNA de operação neutra, mesmo quando também chegam aos clientes finais. Muitas delas começaram atendendo outras operadoras, inclusive grandes grupos, e só posteriormente passaram a oferecer serviços aos clientes finais. Ainda assim, como modelos de negócios mistos, as operadoras competitivas conseguem manter a confiança e atendem a clientes que competem entre si, de forma isonômica e transparente. Contratação de capacidade, swaps, compartilhamento de cabos, de fibras e dutos, além de construções conjuntas, são práticas bem disseminadas e eficientes entra operadoras competitivas.  Desta forma, contratam cada vez menos redes dos grandes grupos.

É voz corrente no mercado que serviços de conectividade pura não são rentáveis. Por isto as teles mundo a fora são instadas a oferecer outros produtos das mais variadas naturezas, como forma de gerar mais receitas e fazer face às exigências de investimentos necessários para manter serviços de conectividade. Parece paradoxal! Os serviços básicos de uma tele – conectividade – não geram receitas para remunerar a própria rede utilizada para serviço! Com margens tão estreitas como poderia ser feita uma sub divisão na cadeia de valor e incorporar um operador neutro? Não é fácil mas, em tese, não é impossível. Com grande eficiência e especialização, desde os investimentos até a excelência na execução, pode-se gerar ganhos de produtividade suficientes para remunerar investimentos. Será que as novas operadoras neutras, que os grandes grupos trarão ao mercado, chegarão lá?