TelComp On-line #47

Oportunidades de negócios com Wi-Fi 6e

A alocação de 1.200 MHz na faixa de 6 GHz, que permitirá o desenvolvimento do Wi-Fi 6e, será deliberada pela Anatel em breve. São inúmeras as oportunidades de negócios para as operadoras competitivas. Confiram, na entrevista com Paulo Frosi, um expert no assunto. Frosi é um executivo de TI e Telecom com mais de 20 anos de experiência em empresas como a Huawei, Castgroup (integradora da SAP) e agora head de negócios corporativos da Connectoway. Leia entrevista a seguir.

 

Como o Wi-Fi 6/6E trará oportunidades de negócios para operadoras competitivas?

Se compararmos as possibilidades do Wi-Fi 6/6E às versões anteriores, observamos ruptura semelhante à evolução do acesso a Internet nas redes móveis 3G. Com esta nova tecnologia surgem uma gama de possibilidades de aplicações que antes barravam nas limitações tecnológicas e de espectro das redes Wi-Fi existentes. Nesta linha, podemos pensar em inúmeras possiblidades, tanto para utilidade pública como novos negócios.

 

Fale mais sobre esta ruptura tecnológica.

A comparação anterior é proposital e simples. Voltando um pouco no tempo, lembraremos dos aparelhos celulares antigos. Eram pesados, lentos, com pouquíssimos recursos e totalmente dependentes de conteúdos já embarcados. A evolução para os atuais smartphones só foi possível com a utilização de acesso à internet em alta velocidade e com grande capacidade, trazidos pela evolução das redes 3G. Uma coisa acabou puxando a outra. De lá para cá, os celulares só foram se adaptando à capacidade de processamento, armazenamento e design. De fato, o grande divisor de águas, a ruptura daquele momento, foi ter “em nossas mãos” grande capacidade de acesso a internet, em qualquer lugar, através da cobertura 3G.

Com o Wi-Fi 6/6E não será diferente. Por mais que tenhamos hoje redes Wi-Fi com excelentes capacidades, esbarramos ainda nas aplicações comerciais de larga escala consideradas críticas. Qualquer um deve se lembrar de um momento em que precisou do acesso Wi-Fi e teve a percepção de estar conectado, mas sem conseguir navegar. Principalmente em acessos públicos, o sentimento era ainda pior, pois o problema já começa na conexão na rede. Muitas vezes, ainda ficamos frustrados com uma conexão lenta. Claro que não podemos generalizar, mas posso dizer, que todas as redes Wi-Fi comerciais hoje sofrem do mesmo problema, ou seja, quanto mais dispositivos conectados na rede, pior é a percepção do usuário.

 

Em relação a infraestrutura necessária para o funcionamento desta nova tecnologia, precisaremos passar por uma troca de equipamentos em larga escala para que as redes Wi-Fi 6/6E estejam disponíveis?

Em linhas gerais, a resposta seria “depende”. Podemos afirmar que as redes Wi-Fi 6/6E terão equipamentos totalmente novos e redesenhados. Porém, com a evolução do protocolo 802.11, as novas redes continuam compatíveis com as anteriores. Isso significa que será possível evoluir uma rede Wi-Fi em fases, com a implantação de novos equipamentos e controladores Wi-Fi 6/6E. Podemos evoluir prioritariamente em áreas de maior concentração de clientes, por exemplo, sem perder o acesso de borda através dos roteadores e access points já existentes.

O potencial total de uma rede na nova tecnologia só poderá ser experimentado quando todos os dispositivos da rede forem compatíveis com os novos protocolos, inclusive os dispositivos de acesso, como celulares e laptops. É importante dizer que os principais smartphones de última geração já são compatíveis com o novo protocolo 802.11ax, pré-requisito para funcionamento pleno nas novas redes de 6ª geração.

 

Quais são os desafios em relação às frequências utilizadas pela tecnologia do Wi-Fi 6/6E? Isto pode impactar os novos negócios?

Estamos em um momento de transição. A tecnologia do WI-FI 6 já pode ser explorada e utilizada nas frequências de 2.4 GHz e 5GHz, liberadas para utilização ampla de redes sem fio. Espera-se também que alguns dos principais avanços e aplicações de negócios em larga escala aconteça de fato na nova faixa de frequência de 6 GHz. Esta faixa de frequência hoje é utilizada para outras aplicações, mas que conviverão bem com o Wi-Fi 6/6E, sem dificuldades de convivência e ai as possibilidade de ganhos são grandes.

Veja, temos uma faixa de frequência com espectro mais amplo e com menor concorrência, cenário ideal para aplicações críticas que necessitam de garantia de conectividade e com baixíssima latência. Porém, um ponto de grande discussão neste momento é a regulamentação de uso da nova frequência pela Anatel. Para o pleno desenvolvimento do WI-FI 6/6E é necessária a disponibilização de 1.200 MHz de espectro não licenciado em 6GHz, e assim abrir mais possibilidades de negócios para as operadoras competitivas e ISPs.

A discussão toda se dá exatamente neste ponto, ou seja, do ponto de vista de negócios e avanço da tecnologia, manter esta faixa de frequência integralmente (1.200 MHz) não licenciada acelerará, e muito, a evolução das redes Wi-Fi de nova geração em nosso país e trará com ela uma série de novos negócios com desenvolvimento regional.

 

Quais são as perspectivas e as oportunidades para o setor de operadoras competitivas na sua visão?

São muitas as oportunidades: A nova tecnologia de acesso às redes Wi-Fi de 6ª geração traz uma nova experiência ao usuário. Já temos equipamentos homologados pela Anatel e que estão disponíveis para aplicação comercial e capazes de garantir acessos simultâneos de alta velocidade a centenas de usuários por access points, com cobertura inteligente do sinal emitido pelas antenas que se adaptam aos locais de maiores movimentos. Isto tudo, combinado com uplinks em fibra ótica que podem ser conectados diretamente aos roteadores sem fio sem a necessidade de equipamentos adicionais, podem ser traduzidos em dezenas de serviços à serem oferecidos pelas competitivas e ISPs, como por exemplo: escritórios totalmente sem fio com alta qualidade de acesso por usuário, salas de aula com aplicações de realidade aumentada e conteúdos em streaming 4K, cidades sem fio totalmente conectadas às redes 5G para completa cobertura de aplicações IoT (Internet das coisas).

Em resumo, o grande “boom” da indústria 4.0 com aplicações de IoT com qualidade e confiabilidade começa agora. O Wi-Fi 6/6E é a tecnologia que faltava para preencher os GAPs existentes em relação a necessidade de controle individuas de vários dispositivos usando a rede de dados em altíssima velocidade, com necessidade de precisão crítica e conectividade permanente.

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A Coalizão Wi-Fi 6e

Um grupo de empresas e entidades, com o apoio da TelComp, todas interessadas em viabilizar o pleno e rápido desenvolvimento do Wi-Fi 6e no Brasil, organizou a Coalizão Wi-Fi 6e, e está realizando encontros com conselheiros da Anatel e outras autoridades federais relevantes, para mostrar a importância das decisões futuras sobre a matéria. Reduzir a faixa de frequência e/ou postergar as decisões que permitiriam o uso imediato, como proposto por algumas empresas, não são uma boa alternativas para o país agora.

Confira a argumentação da Coalizão Wi-Fi 6e no texto enviado à Anatel. [download id=”8684″]

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Vale a pena rever

Confiram também entrevista exclusiva (no link abaixo) para a TelComp, com Rodrigo Uchoa, da Cisco, sobre a importância do Wi-Fi 6  para o futuro das redes, com a participação do jornalista Renato Cruz, editor do inova.jor.

https://www.inova.jor.br/2019/07/23/telecomunicacoes-futuro/

 

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