País compromete o futuro

Pedro Doria – O Globo

O Brasil está distraído: entre Lava-Jato, a crise na Segurança, os inúmeros impasses no Congresso, o tempo passa, e o governo não trabalha para inventar o futuro. E, verdade seja dita, entre os governos Dilma e Temer, apesar de muito distintos na política econômica entre si, ambos são velhos na maneira como entendem essa construção de futuro. Não há sintoma maior do que este, revelado ontem pela Pnad Contínua. Ao fim de 2016, 30% dos domicílios brasileiros não tinham acesso à internet. Apenas 81,2% dos estudantes chegaram à rede. É uma tragédia.

É óbvio que nossos governos não compreenderam o acesso à internet, principalmente entre jovens, como estratégico. Metade do que pagamos em serviços de telecomunicações, seja banda larga fixa, seja móvel, é imposto. Metade. Não é diferente com equipamento: computadores, roteadores, celulares, tudo é pensadamente tributado. Só existe uma conclusão possível. Na opinião dos últimos governos, estes são instrumentos de luxo. São uma oportunidade de arrecadação. De sustentar o Estado. É assim no nível federal, no estadual, no municipal.

O resultado imediato é que a política acirra a desigualdade social. Internet é conhecimento, é estar preparado para o futuro. O filho de classe média tem. O do pobre, não. As regiões mais abastadas do país têm, as menos não têm.

O resultado a médio e longo prazos é pior do que desigualdade social imediata. O país precisa que a maior quantidade possível de brasileiros esteja pronta para as profissões exigidas pelo mercado de trabalho da quarta revolução industrial. Em 2030, quem não usava internet aos 15 está fora. É pobreza individual, mas é também menos gente puxando o PIB para cima, tomando o país, menos competitivo globalmente. Todos pagamos a conta.

Da Noruega à Coreia do Sul, internet e equipamento digital são subsidiados. O cidadão paga menos do que custa de fato. É com isso que o Estado gasta seus impostos. No Brasil, é com isso que o Estado arrecada. É uma política burra. Injustificável. Criminosa com o individuo e criminosa com a sociedade.

E não está na pauta, até agora, de nenhum dos presidenciáveis. Sequer enxergaram o óbvio. Quem entende para onde vai a economia sabe que derrubar estes preços, universalizar acesso, deveria estar entre as cinco prioridades de qualquer plataforma. Por motivos de esquerda, por motivos de direita.

Mas não. Ainda tratamos o computador novo como aquele contrabando que o sujeito traz de Miami, um luxo que o fiscal da Alfândega tem a missão de flagrar.