A não desejável demonização dos postes

A tempestade que castigou São Paulo no dia 3 de novembro e o apagão que se seguiu – deixando milhões de paulistas sem energia elétrica por dias –, trouxe à tona um debate que estava adormecido para o grande público: o enterramento da rede de cabos nas cidades brasileiras.

De repente, surgiu um novo vilão das cidades brasileiras: o poste. Mas, infelizmente, essa questão não é tão simples assim.

Os grandes centros enfrentam desafios na expansão e manutenção de suas infraestruturas subterrâneas, envolvendo redes essenciais como água, esgoto, gás, energia elétrica e telecomunicações. O crescimento desordenado ao longo dos anos agravou a complexidade dessas intervenções, demandando uma abordagem cuidadosa para minimizar impactos no cotidiano dos cidadãos.

Como exemplo, uma das principais restrições enfrentadas pelas equipes responsáveis por obras subterrâneas é a limitação de horários para execução. Devido à prioridade dada ao trânsito de pessoas e pedestres durante o dia, muitas cidades impõem restrições severas, permitindo a realização das obras apenas durante a madrugada. Essa restrição não apenas prolonga o prazo de conclusão das obras, como aumenta consideravelmente os custos associados à mobilização de equipes, sem contar o fato de que, das 22h até às 8h, existem leis de silêncio (PSIU) que implicam em restrições para o necessário quebra-quebra das obras.

Outro obstáculo significativo é a ocupação desordenada do subsolo, que muitas vezes apresenta um cadastro defasado das redes existentes. A sobreposição de infraestruturas, incluindo redes das diversas utilities, torna as escavações mais complexas e suscetíveis a imprevistos. A ausência de um cadastro preciso contribui para a dificuldade na localização e identificação das redes existentes, aumentando o risco de danos durante as obras.

Ainda, na lista das dificuldades, a falta de espaço nas estreitas e não padronizadas calçadas é outra barreira enfrentada pelos construtores. O lançamento de dutos muitas vezes é dificultado pela falta de espaço disponível, obrigando as equipes a realizar obras quase artesanais. A ausência de um padrão na recomposição dos pisos das calçadas agrava a situação, resultando em uma paisagem urbana fragmentada e esteticamente desagradável.

Para superar esses desafios, é essencial adotar abordagens inovadoras e integradas entre os diversos agentes envolvidos. A utilização de tecnologias avançadas de mapeamento e georreferenciamento pode contribuir para a atualização dos cadastros existentes, proporcionando uma visão mais precisa do subsolo. Além disso, a implementação de políticas que incentivem a padronização na recomposição das calçadas pode reduzir a interferência visual e garantir uma estética urbana mais coesa, com custo de manutenção reduzido.

A colaboração entre órgãos governamentais, empresas e a comunidade local é fundamental para desenvolver soluções eficazes e minimizar os impactos dessas obras. A busca por alternativas tecnológicas, aliada a uma gestão eficiente e transparente quanto aos impactos na sociedade, pode transformar os desafios em oportunidades para criar cidades mais sustentáveis e preparadas para o futuro.

Enfrentar os desafios construtivos em obras subterrâneas requer uma abordagem holística, considerando aspectos técnicos, impactos sociais e ambientais. Somente por meio de uma visão integrada e cooperação entre os diversos atores envolvidos será possível superar esses obstáculos e construir cidades mais resilientes e eficientes.

Enquanto isso, nós, empresas de telecomunicações, em conjunto com as concessionárias de energia, agências reguladoras, União, estados e municípios precisamos promover um debate honesto com a sociedade. Os postes são cruciais na infraestrutura das cidades, desempenhando diversas funções. Primariamente, são empregados para a iluminação de ruas e calçadas, assegurando a segurança e o conforto da comunidade. Também levam cabos aéreos que viabilizam serviços fundamentais, como internet, TV a cabo e energia elétrica para toda a população, além de sustentarem todo o sistema de comunicação urbana, como suporte de placas de sinalização.

Precisamos de um sistema normativo que observe essa realidade colocada em todas as cidades brasileiras, oferecendo segurança jurídica a todo o sistema.

Sem os postes que carregam a energia e a internet por todo o Brasil, você não estaria lendo este artigo.

Por Luiz Henrique Barbosa da Silva

Presidente Executivo da TelComp