TelComp On-line #33

SÉRIE ESPECIAL

Espectro – Recurso crítico para as telecomunicações

A Anatel está trabalhando em várias frentes para colocar à disposição do mercado mais espectro, criar novas alternativas para acesso ao recurso e com isto facilitar o desenvolvimento de serviços, não só pelas teles tradicionais, mas por operadoras competitivas, provedores regionais e outros integrantes dos ecossistemas digitais. O acesso ao espectro, recurso escasso e em alta demanda, é tema crítico nas pautas estratégicas de políticas públicas e regulamentação no mundo todo. São inúmeras as implicações para a economia, para o desenvolvimento tecnológico e para a inclusão digital. Para as operadoras de telecomunicações, o acesso ao espectro é vital pois representa oportunidades de negócios e também impacta toda a dinâmica concorrencial no mercado.

TelComp On Line começa agora uma Série Especial de matérias sobre o tema. Participe! Envie suas questões e providenciaremos respostas por especialistas, sugira tópicos de interesse e faremos matérias específicas, envie seus “casos de uso” e divulgaremos. Contribua!

Para iniciar a Série Especial,  convidamos o Wilson Cardoso da NOKIA para uma conversa sobre o que está acontecendo no mercado agora. Confira.

 

Qual o potencial de uso para banda larga fixa das faixas 1,9GHz; 2,5GHz e 39,5GHz, para as quais o Conselho Diretor da Anatel decidiu, em 6 de agosto último, fazer um Chamamento Público para verificar interessados?

Sempre que analisamos uma banda de frequências precisamos ter como ponto de partida o ecossistema de terminais disponíveis e  o mercado potencial demandado. Nas bandas mencionadas existe um  ecossistema de terminais para uso fixo disponível, fica a duvida para a viabilidade econômica do caso de uso da banda larga  fixa.  Para as faixas de 1,9 GHz e 2,5 GHz podemos afirmar que são excelentes soluções para áreas de baixa e média densidade onde não existem soluções de fibra disponíveis. Já para a faixa de 39,5 GHz temos uma excelente solução de competir ou complementar as soluções de fibra.

 

As faixas de 450Mhz já outorgadas não estão sendo usadas: Qual a destinação natural nesse momento? Qual o melhor uso que poderiam ter para facilitar o desenvolvimento de novos serviços?

As faixas de 450 MHz tiveram um uso muito limitado devido à falta de ecossistema de terminais, fato que começou a mudar nos últimos 18 meses com mais terminais disponíveis. Essa faixa é excelente para o uso em zonas rurais e mesmo em zonas urbanas para a conexão de sensores e dispositivos de Internet das Coisas.

 

Como avalia a destinação de 100MHz na faixa de 3,5GHz, para uso por redes privadas? Como seria a divisão geográfica? É possível dividir em “polígonos” para atender a empresas específicas? elétricas, grandes industrias, mineração? Que modelo parece mais promissor para redes privadas?

Os 100 MHz na faixa de 3,5 GHz é uma das faixas mais utilizadas nas recentes destinações para redes privadas no mundo. A idéia de polígono é fundamental para garantir o bom uso da faixa e evitar possíveis interferências. Pessoalmente gosto da ideia de atrelar o polígono ao espaço físico que interessado tenha o direito de uso ou exploração, com isso seriam evitados conflitos de uso além de propiciar que desde galpões industriais até minas a céu aberto sejam atendidos.

 

Faixas exclusivas ou slicing de redes das teles para aplicações privadas?

slicing é um dos casos de uso mais promissores do 5G e ainda precisamos entender todas as suas possiblidades. A interconexão de diversas redes privadas é um excelente exemplo de uso do slicing. Temos que lembrar que algumas empresas que necessitam rede privativa, tem a capacidade de administrar e operar redes 5G. Outras empresas vão buscar o “outsourcing” destas redes e ai o uso secundário é uma opção e outras buscarão somente a conectividade.

 

Fala-se em permitir a aquisição de faixas de frequência de forma dissociada da outorga para a prestação de serviço, quebrando o vínculo que existe hoje entre espectro e serviço. Assim seria possível atrair investidores de infraestrutura, por exemplo para a faixa de 700MHz (que está no pacote do leilão 5G). Você acredita nesse modelo?

Somos os maiores fornecedores da “Red Compartida” no México e podemos afirmar que este modelo retira assimetrias do mercado o que é excelente para o usuário final, por outro lado temos que vislumbrar que o Brasil é um pais gigante e temos muitas estradas sem cobertura de sinal celular. No contexto de aceleração da economia e crescimento da produtividade, precisamos das fazendas conectadas, das estradas conectadas e dos portos conectados, ou seja existe um espaço onde todos podem atuar e de forma mais eficiente possível. Ou seja com uma solução tecnológica única transversal a todos usuários e prestadoras.

 

Uso secundário e mercado secundário: Onde você enxerga oportunidades para negócios de nicho.

Temos vistos ações recentes de uso secundário, principalmente no Agro onde através de um modelo financeiro correto foi possível cobrir mais de 5 milhões de hectares no Brasil, e isso é uma revolução no campo. O mercado secundário é a alavanca onde existe interesse de todos mas não existe mercado para todos, por exemplo os corredores de exportação no Brasil.

 

A ideia de usar o TV White Space é promissora? Qual o melhor uso? Banda larga para áreas carentes ou aplicações tipo IoT?

Tecnicamente o conceito é promissor mas do ponto de vista econômico pode ser insustentável. O problema que enfrentamos no Brasil é da falta de faixas abaixo de 1 GHz, as faixas que possibilitam maiores áreas de cobertura e a cobertura indoor e para pessoas e não para maquinas nesse sentido o White Space é irrelevante.

 

Algum novo insight sobre a modelagem proposta para o leilão 5G? Qual a sua expectativa?

A primeira é que o leilão ocorra o mais cedo possível. O impacto econômico da 5G na produtividade brasileira em média é de 1% ano a ano no período de 2021 a 2035, isso é mais que o impacto da reforma da previdência no mesmo período, quanto mais retardarmos menos benefícios teremos.  Em relação ao modelo, após várias interações com a Anatel considero que temos um leilão equilibrado com faixa nacionais e regionais.

 

Qual o melhor uso para a faixa de 6GHz e o potencial de novos negócios com WiFi 6 e WiFi 6E?

Defendemos a destinação deste espectro em dois blocos um para o WiFi 6 imediato e outro deve ser reservado para uso futuro, possivelmente depois da WRC-23 para 5G como uso primário. A motivação é que com isso atendemos uma necessidade crescente de uso do WiFi 6 e deixamos reservado para o futuro uso indoor da 5G para empresas e verticais.

Wilson Cardoso – Diretor de Tecnologia da Nokia para a América Latina, também responsável pelas atividades de fabricação local e pesquisa e desenvolvimento no Brasil . Com 35 anos de experiência em Telecomunicações, desenvolveu a sua carreira no Brasil, Alemanha, Cingapura e Estados Unidos. Recebeu seu Ph. D, em 1997 no Massachusetts Institute of Technology – MIT é detentor de 2 patentes internacionais em transmissão de serviços de tempo real sobre IP em enlaces de Satélite.